segunda-feira, 25 de abril de 2011

Amigos para sempre!

    Há tempos que venho adiando o momento de editar esta postagem! A hora enfim, chegou!  Preciso contar os fatos interessantes e ao mesmo tempo inexplicáveis ocorridos na minha vida...

     Foi assim:

     Ficamos amigos  na Faculdade de Odontologia em Araraquara. Naquela cidade ele conheceu sua futura esposa, que rapidamente se tornou também nossa grande amiga. Ela cursava Engenharia Química.

    Tínhamos  já,  dois filhos:  Fábio e Hugo.

    Terminado o Curso;  após a formatura, seguimos caminhos diferentes... Nossa amizade entretanto permaneceu fortalecida;  mais que irmãos como ele dizia: "te escolhi como meu irmão;  quer você queira ou não"!

    Mudei-me para Itatiba, onde iniciei minha nova profissão de Cirurgião Dentista.  Ele foi para Americana; depois para São José dos Campos (sua esposa fora admitida no Laboratório de Pesquisas da Johnson's).

    Nascera meu terceiro filho;  em homenagem a esse amigo, dei-lhe o nome de Renato!

     Dias depois, assistíamos ao casamento dos amigos na cidade de Catanduva, terra natal de Fátima.



     De regresso da viagem de núpcias ao Sul do país, os recém-casados - empolgados com as maravilhas da Serra Gaúcha - insistiram que  nos levariam para conhecer o  "Circuito do Vinho" com  suas cidades encantadoras!  Pelas próximas horas, acompanhamos  atentamente os relatos daquela aventura:  Gramado, Garibaldi, Canela, Bento Gonçalves e outras... Adegas;  degustação de queijo e vinho!  Narrou emocionado sua passagem pelo CTG (Centro de Tradições Gaúchas),  em Caxias do Sul;  a preservação do folclore com suas danças típicas...  Finalizando prometeu-me: "se algum dia eu quisesse conhecer o Sul, teria que ser em sua companhia".  Agradeci a sua insistência e concordei prontamente!

         Com ele aprendi cantar músicas sertanejas;  tomar Campari, sua bebida preferida!  Ao violão, relembrava com saudade os tempos de menino em sua cidade natal, São Sebastião da Grama!  Visitei certa vez essa pequena e graciosa cidade; ela tem realmente, encantos impossíveis de serem esquecidos pelo jovem que nela crescera!

     No auge de nossas vidas em família;  já no topo das nossas conquistas profissionais; quando atingiramos plenamente nossos objetivos,  e sonhos enfim realizados... Quando pensávamos que a felicidade tornara-se realidade, um sopro melancólico atravessara nossas vidas!  Meu amigo fora hospitalizado!  Vieram as cirurgias, radioterapias, quimioterapias, internações...  Aos 39 anos, um câncer abdominal ameaçava fatalmente sua vida!  Todo o conhecimento científico  à disposição da Medicina, jamais poderia salvá-lo!

     Como se nada estivesse acontecendo - mesmo hospitalizado - pedia para que alguém tocasse seu violão e cantasse!  Em nenhum momento deixou-se abater.  Jamais reclamou da dor!  Estava sempre sorrindo...

     Para mim, nada era mais triste que ver meu amigo num quarto de hospital, deixando a vida lentamente!

     Na última visita que lhe fiz,  ao me ver chegar- já quase sem forças recostado na cama - esforçou-se para recuar;  sorriu  e pediu para que eu me sentasse a seu lado... Meu grande amigo agora era pouco mais que uma frágil criança, mas, sua grandiosidade interior como sempre, equilibrava seus gestos!  Nada  falamos  sobre doença...

     Acabara de nascer mais uma sobrinha,  filha de minha irmã Auxiliadora!  Em razão da  admiração que os irmãos tinham pelo meu filho Renato, lhe deram também o nome de Renata.  Ao saber disso, olhou-me profundamente e disse: "muitos Renatos e Renatas  ainda surgirão na sua vida"!  Sorrindo mais uma vez, esforçou-se para  tocar meu ombro,  prometeu:  "vou sair dessa e te levarei para conhecer o Sul. Se você for com alguém que não seja comigo, nossa amizade se acabará"!  Mais uma vez  agradeci comovido, o reiterado convite!

    Ao deixar o hospital, percebi o quanto éramos e ainda somos impotentes diante daquela doença!

    Passadas algumas semanas,  ele faleceu!  Ao violão sua irmã tocou e cantou para ele até  o final, como lhe houvera  pedido!

    No seu sepultamento, a cidade de São Sebastião da Grama emudeceu!  Ao me despedir dele, senti que um pedaço de mim acabara de morrer também!

    Os anos que se seguiram não foram  e  ainda não são os mesmos, sem ele...

    Apesar de tudo,  minha vida teria que continuar em frente!

     Continuei praticando meu esporte ao qual dediquei grande parte do meu tempo. Fundei e presidi Clubes .  Promovi e realizei torneios e campeonatos.Viajava frequentemente, sempre em companhia da minha esposa e filhos!

     Como membro assíduo de grupos de excursão da minha cidade, conheci locais interessantes do nosso país!  Várias viagens mesmo em ônibus, se tornavam muito agradáveis na companhia de amigos empenhados em transformar o cansaço em prazer e felicidade!

     O tempo foi passando...

    Anos mais tarde, surgiu-me um convite para uma nova excursão:  uma viagem de oito dias à Serra Gaúcha!  Seria de ônibus!  A intenção era trazer muito vinho diretamente da origem!  Prontamente, fiz reservas para mim e minha esposa Sueli!

     No dia do embarque, ao me acomodar na poltrona do ônibus - sempre numa das últimas das fileiras do corredor -  a organizadora da excursão (Cecília), me apresentou um jovem recém casado:  "Este rapaz acabou de se casar e fará sua viagem de núpcias conosco;  chama-se  Renato", disse ela. Jovem  simpático e descontraído, rapidamente me tornou familiar!

     Durante a viagem - a cada parada em pontos turísticos ou para refeições - ele desembarcava antes e reservava nossos lugares à mesa!  Me pedia com naturalidade que eu os fotografasse.  Foram muitos pedidos; que eu trocasse os filmes da máquina; exigia minha atenção em tempo integral!  Parecia que só minha esposa, eu e eles havíamos embarcado!  Era como se já nos conhecêssemos há muito tempo...

    Visitamos várias cidades da Serra Gaúcha. Em cada uma delas, atrativos diferentes e marcantes!

     A  excursão já estava quase no final, quando fomos participar de uma festa de danças folclóricas;  com churrasco típico gaúcho, na sede de um CTG em Caxias do Sul.
    
      Assim que chegamos, fomos calorosamente recebidos por jovens vestidos à caráter:  com vestidos rodados de cores alegres;  homens de bombacha, botas, esporas e lenços! O impacto da música vibrante;  o sapatear dos dançarinos;  os músicos, tudo era realmente fascinante naquele espetáculo!

    O ambiente era grandioso, com longas e rústicas mesas e bancos!  Enquanto no tablado os dançarinos encantavam a todos, ao fundo um churrasco era preparado!

     À mesma mesa sentaram-se nossos inseparáveis amigos!   Estávamos frente a frente. Minha esposa a meu lado, assistia distraída ao espetáculo!  Pela primeira vez, me dirigi à jovem esposa do novo amigo: "desculpe-me... Estamos viajando juntos há vários dias e eu ainda não sei seu nome"!  Ela olhou-me fixamente e sorrindo, falou: "meu nome é Fátima"!  Naquele instante um arrepio percorreu meu corpo! Voltei-me para a minha esposa;  quase sem voz, lhe falei:  "ele veio"!  Levantei-me e fui chorar distante dali!

     Ainda com a voz embargada, lavei meu rosto e voltei!

     A festa terminou!  Pareceu que o encanto da viagem também!  Os dois amigos se distanciaram de nós! Misturados agora aos excursionistas, se tornaram invisíveis até o desembarque na chegada!

     Mesmo residindo na mesma cidade, jamais nos encontramos novamente!

     Ainda hoje, ao relembrar, essa história me causa comoção!

     Soube mais tarde que meu saudoso amigo pertencia à Religião Espírita.  Ele jamais falara sobre religião comigo!

     Havia alguma semelhança naqueles jovens, que lembrava meus velhos amigos!  O fato de ambos serem recém casados e estarem em viagem de núpcias a caminho do Sul;  nada me chamou a atenção e me fizesse lembrar da " promessa"!  Só mesmo num local muito especial, me fora revelado o nome  da jovem esposa!

     Coincidências?  Alguma explicação deve haver!

À minha esquerda o amigo Renato
      Passados alguns anos, dois dos meus três  filhos se casaram:  Fábio casou-se com Carla Renata Frare;  Renato, com Renata Rela; ambos gostam de música e tocam diversos instrumentos...

     "Há mais mistérios entre o céu e a terra, do que sonha a nossa vã filosofia"Shakespeare.

     "Amigos vem, amigos se vão. Mas os verdadeiros amigos,  nem mesmo a morte os afasta de nós. São eternos e incondicionais". Simone Brantes.

6 comentários:

  1. Um Mix de Emoção, Saudosismo,Tristeza.....e, enfim uma formidável Homenagem ao nosso amigo Renato.
    Parabéns Nani, por expor tão sábiamente o quanto você ainda preza essa bonita amizade!

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    Respostas
    1. Ele foi um amigo que ficou realmente para sempre em nossas memórias, Angélica!

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  2. Amizade envolve amor e Amor é a unica coisa que fica, permanece do principio ao final de todos os tempos…
    Parabéns, Tio Nani... linda homenagem !
    bjs da sua sobrinha
    Luana Flores

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  3. Fala veio! estou passando rapidamente por aquí e quero comprimentá-lo pois nada além do passado é melhor que vivermos o presente.

    Muito Trabalho e dedicação é o meu lema ainda.

    Não me esqueço de voce jamais.

    Forte abraço

    Paulo Rebelo (Margaret)

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  4. Somos dois, amigo!
    Amigos de verdade não se encontram por acaso e com frequência são incomuns, por isso não podemos esquecê-los! Abração às crianças, a você e à Margaret.

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Seu comentário é o que torna especial esta postagem. Enriquece extraordinariamente o conteúdo!
Lembrando Saint Éxupery:"Aqueles que passam por nós, não vão sós. Não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós".
Obrigado pela visita!
Abraços!

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