A Copa do Mundo de Futebol 2014 está aí! "A Copa das Copas", segundo os políticos e os mais animados empreiteiros do país! Mas, para Arnaldo Jabor, o pessimismo de muitos brasileiros, parece querer abafar a euforia de alguns!
Trechos de seu Artigo publicado no Estadão em 27 Mai 2014: "A Copa da Esperança e a Copa do Medo ".
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Seleção do Uruguay, Campeã em 1950 no Brasil |
...Com ingênua esperança de modernidade, achávamos que nossa vez tinha chegado. E fomos ao jogo para ver nossa independência. Tínhamos certeza absoluta da vitória. Os jornais já fotografavam os jogadores do “scratch” como campeões invencíveis. Tínhamos ganho tudo. Apenas um empate com a Suíça, sete a um contra a Suécia, seis a um contra a “fúria” espanhola.
O estádio estava cheio de ex-vira-latas, de ex-perdedores;
como diria Nelson Rodrigues, todos éramos patrióticos granadeiros bigodudos e
dragões da independência, Napoleões antes de Waterloo. Não queríamos apena uma
vitória, mas a salvação. Só a taça aplacaria nossa impotência diante da eterna
zona brasileira. Queríamos berrar ao mundo: “Viram? Nós somos maravilhosos!”
Precisando de somente um empate, a seleção brasileira abriu
o marcador com Friaça aos dois minutos do segundo tempo, mas o Uruguai
conseguiu a virada com gols de Schiaffino e Ghiggia. Claro que foi um terrível
lance de azar, mas, para nós, o mundo acabou. No estádio mudo, sentia-se a
respiração custosa de 200 mil pessoas. Ouvia-se a dor. Foi uma mutação no país.
Não estávamos preparados para perder! Essa era a verdade. E
a certeza onipotente leva à desgraça...
...Foi uma derrota atribuída ao atraso do país
e que reavivou o tradicional pessimismo da ideologia nacional: éramos
inferiores por um destino ingrato. Tal certeza acarretou nos brasileiros a
angústia de sentir que a nação tinha morrido no gramado do Maracanã...”. E aí
ele escreveu a frase rasgada de dor: “Nunca mais seremos campeões do mundo de
1950!”.
Esta sentença nos persegue até hoje. Talvez nunca mais
tenhamos o peito cheio de fé como naquele ano remoto.
Lá, sonhávamos com um futuro para o país. Agora, tentamos
limpar nosso presente. Somos hoje uma nação de humilhados e ofendidos, debaixo
da chuva de mentiras políticas, violência e crimes sem punição. Descobrimos que
o país é dominado por ladrões de galinha, por batedores de carteira e
traficantes. E mais grave: a solidariedade natural, quase “instintiva” das
pessoas está acabando. Já há uma grande violência do povo contra si mesmo...
...Garotos decapitam outros numa prisão,
ônibus são queimados por nada, meninas em fogo, presos massacrados, crianças
assassinadas por pais e mães, uma revolta sem rumo, um rancor geral contra
tudo. Repito: estamos vivendo uma mutação histórica.
Há uma africanização de nossa desgraça, com o perigo de ser
irreversível. E não era assim — sempre vivemos o suspense e a esperança de que
algo ia mudar para melhor...
...O mais claro sinal de que vivemos uma
mutação histórica é esta Copa do Medo. Há o suspense de saber se haverá um
vexame internacional que já nos ameaça. Será péssimo para tudo, para economia,
transações políticas, se ficar visível com clareza sinistra nossa incompetência
endêmica, secular. Nunca pensei em ver isso. O amor pelo futebol parecia-me
indestrutível. O governo pensava assim também, com o luxo dos gastos para o
grande circo. E as placas nas ruas se sucedem: “Abaixo a Copa!”, “Queremos uma
vida padrão Fifa!”.
Como vão jogar nossos craques? Com que cabeça? Será possível
ganharmos com este baixo astral, com a gritaria de manifestantes invadindo os
estádios? Haverá espírito esportivo que apague essa tristeza?
Antes, nas copas do mundo éramos a pátria de chuteiras. Hoje
somos chuteiras sem pátria". Leia o texto completo Aqui.
"Nossos melhores sucessos vêm depois de nossas maiores decepções". Henry Ward Beecher.
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