Em comemoração a Semana da Árvore, reproduzo o belo Conto escrito por Ivana Maria França de Negri, postado no Blog SOS Rios do Brasil.
AS DUAS ÁRVORES.
"Plantadas há décadas lado a lado, floresceram juntas em muitas primaveras. Uma oferecia alvos cachos perfumados, e a outra, rubros pingentes que eram oferecidos pelos enamorados às suas amadas.
Abrigaram ninhos de passarinhos, e em troca, recebiam a paz do seu canto. Assistiram ao milagre de molengas lagartas transformarem-se em belíssimas borboletas. Sustentaram balanços para alegrar brincadeiras infantis.
Quando as crianças adolesciam e faziam de seus troncos confidentes, desenhando corações de seus amores, aceitavam tudo com serenidade. Até a dor das marcas riscadas a canivete.
Suas flores enfeitaram mesas festivas, formaram buquês de noivas e acompanharam muitos dos habitantes até a última morada, participando assim, de todas as etapas de suas vidas.
Encorparam, e suas copas pareciam querer tocar o céu, enquanto a circunferência de seus troncos alargava-se.
Quem as avistava de longe, pensava tratar-se de uma única árvore, porque suas copas se misturavam. As raízes se entrelaçavam e as flores caiam juntas formando um macio tapete colorido.
Atravessaram verões dando sombra amiga aos passantes. Despiam-se nos outonos, desfloresciam nos invernos, mas sempre renasciam nas primaveras, quando então, reinavam majestosas, florejando e espargindo deliciosos odores.
A cidade cresceu, o progresso chegou. Modernas avenidas foram tomando o espaço do verde.
Até que um dia, foi decretada a retirada das duas, porque estavam atrapalhando. Tornaram-se um estorvo, porque impediam a construção de um novo viaduto.
Funcionários da prefeitura chegaram com suas motosserras e, sem piedade, começaram a podar os galhos. No chão, a hemorragia verde misturava-se com as folhas maceradas e os troncos recebiam pesados golpes de machado, espalhando o cheiro concentrado da seiva fresca que vertia dos cortes.
Ninguém se apiedou delas e nada fizeram para impedir seu aniquilamento. As duas agarraram-se mais ainda, entrelaçando suas raízes num mudo protesto, um pedido de socorro que ninguém percebeu.
Apenas uma brisa amiga soprou solidária. O sol escondeu-se atrás das nuvens para não presenciar o triste acontecimento. Nem a lua apareceu naquela noite e nenhuma estrela ousou iluminar o céu, que se cobriu de luto.
Depois de horas do ensurdecedor barulho das serras enlouquecidas cortando os troncos carnudos, os funcionários desistiram de arrancar as raízes. Cobriram-nas com concreto e comemoraram o término da árdua missão.
Passou-se muito tempo depois da construção da moderna rodovia. O chão começou a trincar e tímida fenda deixou antever um frágil brotinho verde em meio ao negror do asfalto.
Antigos moradores, os que ainda se lembravam das duas árvores sempre abraçadas, ficaram curiosos para saber qual delas havia sobrevivido. Seria a de flores vermelhas? Ou sobrevivera a de flores brancas?
Quando no ano seguinte a primavera chegou com toda sua tradicional exuberância, tiveram uma grata surpresa. Nem vermelhas, tampouco brancas.
Resultado do idílio amoroso entre aquelas primitivas almas vegetais, nascera uma árvore com as mais lindas e cheirosas flores como ninguém jamais havia visto. E eram todas cor-de-rosa!"
"A árvore quando está sendo cortada, observa com tristeza que o cabo do machado é de madeira". Provérbio Árabe.
Feliz quinta-feira!
ResponderExcluirQue delicadeza na escolha da imagem e do texto, parabéns!
Beijinho
Nicinha
Eu também gostei muito do texto, que o transcrevi no blog.
ExcluirBoa quinta-feira pra você também, Nicinha.
Beijos!
Boa tarde, o texto maravilhoso, compara bem as árvores com o ser humano, refletir sobre o belo texto é obrigatório.
ResponderExcluirAG
http://momentosagomes-ag.blogspot.pt/
Sim, somos parte das árvores também, Gomes!
ExcluirAbraços!
Que belo conto e que analogia perfeita à miscigenação das raças. Que se estirpe o preconceito do seio da sociedade, do coração das pessoas. Parabéns!
ResponderExcluirÉ uma lição de superação num conto sobre um acontecimento do cotidiano, só observado por pessoas de grande sentimento pelas árvores, pessoas e suas almas!
ExcluirObrigado pelo seu feliz comentário.
Abraços!
Faz-me doer a alma o ver cortar árvores, ainda há pouco tempo o fizeram no local onde trabalho, para fazer um parque de estacionamento, bem sei que foram plantadas muitas outras para colmatar as que se cortaram , mas não interessa, pois aquelas que cortaram perderam-se para sempre. Pelo menos aqui no conto houve um renascer.
ResponderExcluirBeijinhos
Maria
E pensar que leva-se décadas para elas ficarem adultas e produtivas!
ExcluirBeijos.
Oi, Vitorio!
ResponderExcluirNessa semana que passou, atearam fogo em uma árvore aqui da rua. Ninguém sabe quem foi, mas a árvore ficava de frente para o único terreno vazio. Se daqui uns meses começarem a remexer no terreno, saberemos quem foi.
Uma árvore tem todo o direito de ocupar o seu espaço, tanto quanto nós! Mas o homem se sente superior a todas as outras espécies...
Fez bem em trazer o texto para cá. Não conhecia e achei perfeito!
Beijus,
Oi Luma!
ResponderExcluirAcho que é possível haver harmonia entre o progresso e as árvores.
Basta agir com inteligência!
Beijos!
Belíssimo conto, Vitornani! Parabéns a Ivana Maria. O provérbio árabe também me tocou profundamente. Abraços.
ResponderExcluirUm conto realmente muito bonito, João Antonio.
ExcluirAbraços!
Maravillas naturales !!
ResponderExcluirGostei só não achei emocionante😫😫
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