Em comemoração ao Dia da Árvore no Brasil - 21 de Setembro - reproduzo o texto de Ivana Maria França de Negri.
AS DUAS ÁRVORES.
"Plantadas há décadas lado a lado, floresceram juntas em muitas primaveras. Uma oferecia alvos cachos perfumados, e a outra, rubros pingentes que eram oferecidos pelos enamorados às suas amadas.
Abrigaram ninhos de passarinhos, e em troca, recebiam a paz do seu canto. Assistiram ao milagre de molengas lagartas transformarem-se em belíssimas borboletas. Sustentaram balanços para alegrar brincadeiras infantis.
Quando as crianças adolesciam e faziam de seus troncos confidentes, desenhando corações de seus amores, aceitavam tudo com serenidade. Até a dor das marcas riscadas a canivete.
Suas flores enfeitaram mesas festivas, formaram buquês de noivas e acompanharam muitos dos habitantes até a última morada, participando assim, de todas as etapas de suas vidas.
Encorparam, e suas copas pareciam querer tocar o céu, enquanto a circunferência de seus troncos alargava-se.
Quem as avistava de longe, pensava tratar-se de uma única árvore, porque suas copas se misturavam. As raízes se entrelaçavam e as flores caiam juntas formando um macio tapete colorido.
Atravessaram verões dando sombra amiga aos passantes. Despiam-se nos outonos, desfloresciam nos invernos, mas sempre renasciam nas primaveras, quando então, reinavam majestosas, florejando e espargindo deliciosos odores.
A cidade cresceu, o progresso chegou. Modernas avenidas foram tomando o espaço do verde.
Até que um dia, foi decretada a retirada das duas, porque estavam atrapalhando. Tornaram-se um estorvo, porque impediam a construção de um novo viaduto.
Funcionários da prefeitura chegaram com suas motosserras e, sem piedade, começaram a podar os galhos. No chão, a hemorragia verde misturava-se com as folhas maceradas e os troncos recebiam pesados golpes de machado, espalhando o cheiro concentrado da seiva fresca que vertia dos cortes.
Ninguém se apiedou delas e nada fizeram para impedir seu aniquilamento. As duas agarraram-se mais ainda, entrelaçando suas raízes num mudo protesto, um pedido de socorro que ninguém percebeu.
Apenas uma brisa amiga soprou solidária. O sol escondeu-se atrás das nuvens para não presenciar o triste acontecimento. Nem a lua apareceu naquela noite e nenhuma estrela ousou iluminar o céu, que se cobriu de luto.
Depois de horas do ensurdecedor barulho das serras enlouquecidas cortando os troncos carnudos, os funcionários desistiram de arrancar as raízes. Cobriram-nas com concreto e comemoraram o término da árdua missão.
Passou-se muito tempo depois da construção da moderna rodovia. O chão começou a trincar e tímida fenda deixou antever um frágil brotinho verde em meio ao negror do asfalto.
Antigos moradores, os que ainda se lembravam das duas árvores sempre abraçadas, ficaram curiosos para saber qual delas havia sobrevivido. Seria a de flores vermelhas? Ou sobrevivera a de flores brancas?
Quando no ano seguinte a primavera chegou com toda sua tradicional exuberância, tiveram uma grata surpresa. Nem vermelhas, tampouco brancas.
Resultado do idílio amoroso entre aquelas primitivas almas vegetais, nascera uma árvore com as mais lindas e cheirosas flores como ninguém jamais havia visto. E eram todas cor-de-rosa!"
"A árvore quando está sendo cortada, observa com tristeza que o cabo do machado é de madeira". Provérbio Árabe.
"Plantadas há décadas lado a lado, floresceram juntas em muitas primaveras. Uma oferecia alvos cachos perfumados, e a outra, rubros pingentes que eram oferecidos pelos enamorados às suas amadas.
Abrigaram ninhos de passarinhos, e em troca, recebiam a paz do seu canto. Assistiram ao milagre de molengas lagartas transformarem-se em belíssimas borboletas. Sustentaram balanços para alegrar brincadeiras infantis.
Quando as crianças adolesciam e faziam de seus troncos confidentes, desenhando corações de seus amores, aceitavam tudo com serenidade. Até a dor das marcas riscadas a canivete.
Suas flores enfeitaram mesas festivas, formaram buquês de noivas e acompanharam muitos dos habitantes até a última morada, participando assim, de todas as etapas de suas vidas.
Encorparam, e suas copas pareciam querer tocar o céu, enquanto a circunferência de seus troncos alargava-se.
Quem as avistava de longe, pensava tratar-se de uma única árvore, porque suas copas se misturavam. As raízes se entrelaçavam e as flores caiam juntas formando um macio tapete colorido.
Atravessaram verões dando sombra amiga aos passantes. Despiam-se nos outonos, desfloresciam nos invernos, mas sempre renasciam nas primaveras, quando então, reinavam majestosas, florejando e espargindo deliciosos odores.
A cidade cresceu, o progresso chegou. Modernas avenidas foram tomando o espaço do verde.
Até que um dia, foi decretada a retirada das duas, porque estavam atrapalhando. Tornaram-se um estorvo, porque impediam a construção de um novo viaduto.
Funcionários da prefeitura chegaram com suas motosserras e, sem piedade, começaram a podar os galhos. No chão, a hemorragia verde misturava-se com as folhas maceradas e os troncos recebiam pesados golpes de machado, espalhando o cheiro concentrado da seiva fresca que vertia dos cortes.
Ninguém se apiedou delas e nada fizeram para impedir seu aniquilamento. As duas agarraram-se mais ainda, entrelaçando suas raízes num mudo protesto, um pedido de socorro que ninguém percebeu.
Apenas uma brisa amiga soprou solidária. O sol escondeu-se atrás das nuvens para não presenciar o triste acontecimento. Nem a lua apareceu naquela noite e nenhuma estrela ousou iluminar o céu, que se cobriu de luto.
Depois de horas do ensurdecedor barulho das serras enlouquecidas cortando os troncos carnudos, os funcionários desistiram de arrancar as raízes. Cobriram-nas com concreto e comemoraram o término da árdua missão.
Passou-se muito tempo depois da construção da moderna rodovia. O chão começou a trincar e tímida fenda deixou antever um frágil brotinho verde em meio ao negror do asfalto.
Antigos moradores, os que ainda se lembravam das duas árvores sempre abraçadas, ficaram curiosos para saber qual delas havia sobrevivido. Seria a de flores vermelhas? Ou sobrevivera a de flores brancas?
Quando no ano seguinte a primavera chegou com toda sua tradicional exuberância, tiveram uma grata surpresa. Nem vermelhas, tampouco brancas.
Resultado do idílio amoroso entre aquelas primitivas almas vegetais, nascera uma árvore com as mais lindas e cheirosas flores como ninguém jamais havia visto. E eram todas cor-de-rosa!"
"A árvore quando está sendo cortada, observa com tristeza que o cabo do machado é de madeira". Provérbio Árabe.
Que bom ver esse texto, reler aqui! Valeu e que haja respeito pela natureza é o que queremos! abraços,chica
ResponderExcluirEu publiquei novamente, porque me emociono sempre que leio este texto. As árvores chegaram bem antes de nós no planeta e mesmo que a humanidade desapareça, elas continuarão aqui.
ExcluirAbraços!
Olá Vitor amei rever esse texto por aqui.
ResponderExcluirEssa imagem se não me engano são buganvilleas sempre muito lindas
sua floração com suas várias cores são de encher aos olhos.
É tão preocupante o valor que as autoridades e uma parte da população trata
a natureza... Depois não adiante chorar...
Por aqui quando tem enchente a natureza manda de volta tudo que a agride como colchões,
sofás, uma tranqueira velha geral... e aí o povo chora.
Obrigada pela sua presença e da sua esposa pela casa.
Abraços aos seus.
Sim, a imagem da postagem é a popular Primavera.
ExcluirEsta foto é do muro da casa da minha sogra em Ubatuba.
Abraços!
Boa noite Vitorio!
ResponderExcluirUma imagem tão linda. É maravilhoso ver a a natureza sempre tão bela, passa por frio, calor, sol e chuva e estão sempre florida enfeitando a nossa vida.
O texto é muito bom. Esse Provérbio Árabe que faz refletir muito. É uma realidade.
Continuação de boa semana!
Que a primavera que já esta a caminho nós traga muitas coisas boas.
Abraços!
Olá, Smareis!
ExcluirHaverá sempre esperança de renovação e coisas boas, enquanto houver primaveras!
Abraços!
Que precioso texto, Víctor, es la emocionante historia o leyenda que da para reflexionar, la vida del árbol es igual que la nuestra, aunque no hable para expresar su dolor su angustia, siente. Nosotros somos naturaleza pura mas, a veces somos terriblemente malos! No se respeta la naturaleza que es madre nuestra, de ella respirado, bebemos nos alimentamos, nos ama y nos abriga. Pero el hombre la maltrata por sus egoísmos e ignorancia.
ResponderExcluirPodría seguir hablando puesto que es un tema que da para largo y tendido. Pero voy corta de tiempo, lo siento.
Ha sido un placer pasar a leerte, vengo del blog de CÉU.
Un saludo muy cordial.
Y se muy -muy feliz.
Realmente, somos muy ingratos con la naturaleza que nos rodea.
ExcluirGracias por la visita, Marina! Abrazos!
Muito bonito, Vitor! Lembrei de imediato ao ler, das plantinhas que vi em fotos nascendo no asfalto, de raízes das árvores da minha calçada espalhando-se e levantando as lages, de plantas que nascem nas paredes dos edifícios de tijolos... que briga dessas guerreiras para terem o direito de viverem! Mas a natureza não se cala, uma hora era se vinga. Estamos vendo o que anda acontecendo por aí.
ResponderExcluirBeijo, amigo!
Realmente, Tais, a natureza vem respondendo com severidade, às irresponsabilidades humanas!
ExcluirBeijo, amiga!
Belo, profundo e próprio para reflexão. Ótima escolha Vitor! Parabéns! Mesmo assim o homem não aprende a importância da Natureza para com o ser vivo. Os últimos acontecimentos mostram os reclamos da Natureza pelas agressões que lhe são impostas. No nosso Arte & Emoções tem bolo. Passa lá! Rsrs.
ResponderExcluirAbraços,
Furtado
Ainda nos arrependeremos muito, por agressões ao nosso meio ambiente, Furtado!
ExcluirAbraços!
Olá, querido amigo!
ResponderExcluirTudo bem por aí, Vítor? Claro k sim, pke a Primavera já chegou e o renascimento está acontecendo. Aqui, o oposto, mas enfim, temos que continuar caminho.
Comecei por ir saber quem era Ivana de Negri e li sua biografia e entrevista. Gostei mto de ler os poemas dessa escritora, um dedicado à agua e outro aos animais. É uma mulher com imensa imaginação, e basta ler o texto dela, que você postou aqui e chegamos, facilmente, a essa conclusão. Tem um sentido profético da vida, mas as pessoas se acomodam e se habituam sempre às mesmas coisas e rostos. Uns pke não podem mudar, outros, pke não querem. Eu depois dos 40, tenho estado a alterar tanta coisa em minha vida! Cada dia é um dia e o seguinte, pode mto bem ser diferente e é, quase sempre.
Não como carne vermelha, há bastante tempo, dois/três anos, mas como carne branca e mto peixe. Minha tripa não admite vegetais em excesso, portanto, por agora, não posso ser vegetariana, mas pensando bem, nós comemos alface, tomate, couve, cebola, espinafres, frutas etc., produtos k vêm da natureza! Podemos ser nómadas, evidentemente, se assim o desejarmos, mas não podemos viver só à base de água, e mesmo essa tem de ser poupada.
Que fazer, querida Ivana de Negri?
Qto ao texto postado, ele é mto doce e sobretudo revela que o poder e a força da natureza são superiores à força e maldade humana. A árvore de flores vermelhas e a de flores brancas nunca mais nasceram, naquele lugar, mas vermelho com branco dá cor de rosa. Simples, assim! Dessa união, dessa linda amizade e ligação nasceu uma "filha" toda rosa.
FELIZ E ALEGRE PRIMAVERA! AS ESTAÇÕES DO ANO ESTÃO SEMPRE MUDANDO. NÓS, TAMBÉM! ACREDITE!
Beijos, um grande abraço e um bom final de semana.
Oi Céu!
ExcluirA lição de superação que as árvores nos dão diariamente, é que torna esse conto emocionante!
Beijos, abraço apertado e boa semana!
Oi Victor! Que belo texto compartilhou conosco, dá um aperto no coração diante das coisas que nós humanos fazemos... :(
ResponderExcluirAbraço!
Obrigado, Dalva.
ExcluirA autora do conto - Ivana de Negri - foi muito feliz na escolha do tema!
Abraços!
Lembrei do poema: "Como o sândalo que perfuma o machado que o corta, / Terei a minha alma sempre morta / Mas não me vingarei de coisa alguma. O homem é racional, mas é um animal. Há que se refletir. Bela postagem! Parabéns! Grande abraço. Laete.
ResponderExcluirIsso mesmo, Laerte, somos animais que pouco sabemos da sabedoria das plantas.
ExcluirAbraços!
OI VITORIO!
ResponderExcluirME EMOCIONEI LENDO E SENTINDO.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Realmente emocionante, esse conto, Zilani!
ExcluirAbraços!
Uma história bem interessante.
ResponderExcluirGostei muito, parabéns pelo excelente texto.
Continuação de boa semana, caro Vitório.
Abraço.
Obrigado, Jaime, abraços!
ExcluirPassando só pra te deixar um beijo e um abracinho português, bem lentinho, pke sou alentejana (rs)!
ResponderExcluirAceita?
Tem como recusar um abracinho assim, bem lentinho, Céu?
ExcluirObrigado e bom fim de semana!
Não é por falta de carinho,
ResponderExcluirque tenho ficado ausente do meu blog.
Estou sim com alguns motivos ,
que tem me inpedido de fazer visitas.
Mas jamais esquecerei a grandeza da nossa amizade,
Um Domingo abençoado.
Beijos,,Evanir.
Deixei na postagem
mimo sobre Outubro Rosa.
Fique a vontade desejar pegar..
Apesar de tudo, a natureza sempre dá um jeito de renascer.
ResponderExcluirLindo e comovente texto. Gostei muito.
Beijinhos.
Olá Vitorio! Passando para agradecer e dizer que fiquei muito feliz com a tua visita e teu amável comentário com tão bela mensagem de felicitações e carinho quando da passagem do meu aniversário e dos meus dois filhos. Muito obrigado de coração.
ResponderExcluirAbraços,
Furtado
Amigo Vitorio
ResponderExcluirNão posso ver ninguém a derrubar árvores, embora este ano, no meu país, isso tenha acontecido com muita frequência, devido aos incêndios.
O texto que escolheu é belíssimo e mostra o poder da Natureza sobre as atitudes dos humanos.Fiquei particularmente sensibilizada com o modo de contar o que aconteceu:autêntica prosa poética! Obrigada.
Um abraço
Beatriz