domingo, 11 de novembro de 2012

"Doutores da Alegria".

 
    Toda vez que vejo na TV aqueles palhaços nos hospitais - distraindo crianças, jovens e idosos, internados -, vem à minha mente a figura do meu saudoso pai!

   Eu tinha perto de dez  anos, por volta de 1955,  quando comecei a prestar atenção  naquele homem - pequeno lavrador , produtor de arroz - que mesmo de uma safra reduzida, sempre doava, todo ano, um saco de 60 kg do produto em casca para as freiras que iam lá no sítio recolher o "donativo". Via também, que ele ia sempre doar sangue;  às vezes   vinham buscá-lo em casa. 





    Uma cena sempre me intrigava:  quase todos os domingos, após o almoço,  ele preparava a "charrete",  pegava seu acordeon - ele tocou dos oito aos 86 anos - saía,  e só voltava ao anoitecer.

    Resolvi pedir para que me levasse com ele, num daqueles domingos.  O que descobri, me comoveu!

    Quando chegamos ao Hospital "Santa Isabel",  em Taubaté, havia um movimento de enfermeiras levando ansiosos doentes ao refeitório, onde meu pai era esperado! Vi olhinhos brilharem, sorrisos tímidos, outros exagerados,  aplausos - enfim, a alegria e a felicidade invadiram o ambiente!  Pacientemente, ele tocou todas as músicas que lhe pediram!

    Ao anoitecer voltamos para casa!



    No domingo seguinte,  lá fomos nós novamente para a cidade! Desta vez foi ele quem me convidou. Mas, alguma coisa estava estranha: o trajeto era diferente, não ia na direção do hospital!  De repente, ele parou a "charrete" em frente a Cadeia Pública de Taubaté. "Hoje vamos tocar aqui", ele disse. Estranhei!  Indignado ponderei: "aqui não tem doentes, pai".  Ele me olhou firme nos olhos e falou o que jamais pude esquecer: "meu filho, aqui está cheio de pessoas que erraram pela vida; estão pagando por seus erros perante a sociedade, mas, lembre-se que eles perderam um dos maiores bens que tinham - a liberdade"! 


Aos 30 anos de idade.
    Esse foi meu pai Agostinho Nani!

    Portanto, quero resgatar um título, a que ele, certamente, faz  jus: Ter sido Um dos primeiros Doutores da Alegria!

    " O importante não é o que se dá, mas o amor com que se dá". Madre Tereza de Calcutá.

   Por falar em doação, já "libertou seu livro"? Aproveite a "onda"e embarque nessa!

4 comentários:

  1. Que história linda do seu pai! Fiquei emocionada pois é tão difícil encontrar pessoas que pensam nas dores do próximo! Muitos vivas para o Sr. Agostinho Nani! Que delícia ter a oportunidade de conviver com alguém como ele!!
    Beijus,

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  2. Para falar mais dele, eu teria que escrever muito ainda; mas já deu para se ter uma ideia do grande homem que ele foi! Obrigado, Luma, pelo carinho! Beijos.

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  3. Que honra recebe-lo no Perseverança!
    Claro que a história do seu "pai" poderá sim ser contada lá no blog indicado.
    Seja sempre bem vindo e sempre deixe seu link para que os demais leitores possam apreciar também essa excelente postagem.
    Fraterno abraço
    Nicinha

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  4. Obrigado, Nicinha! Vou procurar o blog indicado.
    Forte abraço!

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Seu comentário é o que torna especial esta postagem. Enriquece extraordinariamente o conteúdo!
Lembrando Saint Éxupery:"Aqueles que passam por nós, não vão sós. Não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós".
Obrigado pela visita!
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