Coisas que acontecem inevitavelmente quando envelhecemos: aposentadoria negligenciada pelo governo, descaso nas ruas e nos transportes coletivos, frequente falta de acessibilidade e tratamento adequado à saúde pelo Sistema Público...
Além da ingratidão que se alastra de forma epidêmica entre os mais jovens, o idoso tem ainda que aprender a conviver com a invisibilidade.
"QUANDO ME TORNEI INVISÍVEL!
Já não sei em que data estamos. Nesta casa não há folhinhas e, em minha memória tudo está revolto. As coisas antigas foram desaparecendo. E eu também fui apagando sem que ninguém se desse conta.
Quando a família cresceu, me trocaram de quarto. Depois me passaram a outro menor ainda acompanhada de minhas netas. Agora ocupo a edícula no quintal de trás.
Prometeram-me trocar o vidro quebrado da janela, mas se esqueceram. E nas noites, por ali sopra um ventinho gelado que aumenta minhas dores reumáticas.
Um dia a tarde me dei conta que minha voz desapareceu. Quando falo, meus filhos e netos não respondem. Conversam sem olhar para mim, como se eu não estivesse com eles. Às vezes, digo algo, acreditando que apreciarão meus conselhos. Mas não me olham, não me respondem. Então, me retiro para o meu canto antes de terminar a caneca de café.
O faço para que compreendam que estou enjoada, para que venham procurar-me e me peçam perdão... Mas ninguém vem. No dia seguinte disse: '- Quando eu morrer, então sim, vão sentir minha falta!' E meu neto perguntou: '- Ainda estás viva, vovó?' Todos riram muito!
Estive três dias chorando em meu quarto, até que numa certa manhã, um dos meninos entrou e jogou umas rodas velhas... Nem o bom dia me deu.
Foi então quando me convenci de que sou invisível!
Uma vez, os meninos vieram dizer-me que no dia seguinte iríamos todos ao campo. Fiquei muito feliz. Fazia tanto tempo que não saía! Fui a primeira a levantar. Quis arrumar as coisas com calma. Nós, os velhos tardamos muito, assim, eu ajeitei a tempo para não atrasá-los.
Em pouco tempo todos entravam e saíam da casa correndo, jogando bolsas e brinquedos no carro. Eu já estava pronta e muito alegre!
Parei na porta e fiquei esperando. Quando se foram, compreendi que eu não estava convidada. Talvez porque não cabia no carro. Senti como se meu coração se encolhia, o queixo me tremia como alguém que tinha vontade de chorar!
Eu os entendo. São jovens. Riem, sonham, se abraçam, se beijam...E eu... Antes beijava os meninos, me agradava tê-los nos braços, como se fossem meus! E até cantava canções de berço que havia esquecido. Mas um dia...
Minha neta acabara de ter um bebê e me disse que não era bom que os velhos beijassem os meninos por questão de saúde.
Desde então, não me aproximei mais deles. Tenho tanto medo de contagiá-los! E os bendigo a todos e os perdoo, porque, que culpa eles têm de que eu tenha me tornado invisível?".
Texto Original - El dia que me volvi invisible ( Silvia Castillejon Peral).
" O jovem de hoje será o obsoleto de amanhã. Valorizemos nossos idosos, pois estes possuem conhecimento suficiente para suprir dúvidas sobre o passado pouco conhecido por nós". Denis Santarém.
Compadre, amei o Texto apesar de ser triste, esta é a nossa realidade hoje, os valores mudaram muito,por isso é que algumas atitudes nos chocam... "é a vida", mas td vale a pena quando existe AMOR, abrs.
ResponderExcluirIsso mesmo, Thiago! É torcer para que a velhice seja feliz! Abraços!
ResponderExcluirOi Nani parabéns pelo blog,tô sempre dando uma passada por aqui pra curtir seus escritos, que são ótimos e hoje vi este do "Invisível" que eu já conhecia e sempre tive vontade de grava-lo, acho que agora gravo esse texto mudando o narrador, ao invés de vó sará um vô. Quando eu conseguir gravar te aviso,tá?
ResponderExcluirAbcs em todos ai,
Silvio Matos.
Obrigado pelo comentário, Silvio! Estarei aguardando seu vídeo. Abraços também em todos aí!
ResponderExcluirMeu amigo
ResponderExcluirAdmirei muito este texto.
Ele é o relato fiel de uma realidade muito triste,que assola todos os idosos,pelo que vejo, de qualquer país.
Só se lembram da existência dos mais velhos,quando deles necessitam...e não estou a falar de cor...Falo com absoluto conhecimento de causa.
Cada vez mais idosos ajudam os jovens e,na primeira contrariedade,são rejeitados e ignorados. Basta que contrariem
certas situações,para bem dos próprios jovens,para serem afastados sem dó nem piedade.
Sei de quem ajuda com trabalho físico:leva os netos à escola, faz e paga as compras,faz as refeições, limpa,lava,estende roupa,acarinha dá o que pode e muito para além disso e...por nada,por uma simples chamada de .
E o pior,nos casos de que tenho perfeito conhecimento,é que se trata de pessoas que tinham obrigação de saber amar,porque foram muito (e são) amados; têm sólida formação moral e académica,vieram de famílias incapazes de fazerem tal coisa aos seus idosos. No entanto,as suas ligações amorosas( ou afectivas!),transformaram esses jovens em TIRANOS.
Ainda não consegui entender muito bem os motivos!!!...
parabéns pelo texto apresentado.
É preciso que haja quem ponha cobro a estas situações.
Um abraço
Beatriz
Olá, Beatriz!
ResponderExcluirVocê disse tudo. Alguém precisa mudar essa epidemia universal de ingratidão praticada pelos jovens contra os idosos! Um grande abraço.
Infelizmente, esta é a dura realidade ... Eu gostaria que fosse de outra forma ... Feliz domingo!
ResponderExcluirA sua indignação também é a minha.
ExcluirBom fim de semana!
Oi Vitorio!
ResponderExcluirEsse texto é uma realidade, muitos idosos estão invisível na própria família. Estamos vendo, portanto, uma inversão de valores, que precisa ser urgentemente corrigida.
Sentimentos que estremecem as entranhas de qualquer mortal e a rejeição, desamparo e abandono.
Muito triste!
Boa semana!
Abração!
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