Esses dias de Inverno têm sido
inclementes!
O rigor dos dias frios e turbulentos, nos
obrigam a manter as portas e janelas fechadas. Apenas as vidraças meio
embaçadas, são nosso periscópio nesse mar revolto de vento impiedoso:
contorcendo árvores, arrancando delas, as folhas, em sucessivas lágrimas!
Recostado em minha cadeira, em silencio,
observo a luta das andorinhas - as que não emigraram- em vôos
convulsivos num sobe e desce caótico, desordenado!
Esse espetáculo confuso da Natureza atua de
certa forma, como um "carcereiro", que nos coloca em "prisão
domiciliar"!
De onde estou, vejo no horizonte os
galhos nus da paineira apontados para o céu, como enormes mãos suplicando
bênçãos! Ela é a mais alta no pequeno bosque. Sua silhueta despojada
lembra que estamos no Inverno!
Descendo um pouco mais a vista, deparo-me com
duas jovens cerejeiras - árvores símbolo do Japão - cobertas de flores.
Elas nem se importam em que estação estamos! Do outro lado do Mundo é Verão e
isso é o que importa para elas!
Semelhantes às cerejeiras, atento para
meus netos. Para eles é sempre Primavera! Nem o vento frio e a garoa
fina, são capazes de mantê-los debaixo de cobertores. São como as andorinhas,
que adoram a turbulência e descrevem nos céus, malabarismos de tirar o fôlego!
Olhando agora para mais perto de mim, vejo
que há também, certa semelhança entre
minha vida e o tempo lá fora!
No Inverno da Vida, sou agora como uma
paineira! Contudo, a renovação depois dos castigos do frio, jamais
ocorrerá em nova florada!
Como
nutriente em cinzas, desejo descansar para sempre, aos pés daquelas árvores!
Quem sabe um dia, uma semente venha germinar por perto e eu terei o privilégio
em poder fertilizá-la!
" Ninguém pode
conviver sozinho com a beleza que é capaz de perceber. E quanto a nós,
que buscamos o Absoluto, e que construímos um jardim usando a nossa
própria solidão, a Vida nos deixou a imensa paixão para aproveitar
cada instante, com toda a intensidade" Kahlil Gibran.
Publicado em https://vitornani.blogspot.com/
em 27/jun/2011.